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(Weblog Ficção Científica)

Um extrato das anotações de Lino dos Santos, divulgado pela Abin, escrito durante seu estudo acerca da tecnologia de teleporte:

A inexistência de uma tecnologia de teleporte de corpos físicos constitui um enigma complexo que envolve tanto impedimentos de ordem científica quanto questões filosóficas e éticas. Pretendo analisar essas dimensões em detalhes.

Do ponto de vista científico, a teletransportação de matéria enfrenta desafios fundamentais baseados em teorias físicas estabelecidas. A mecânica quântica, uma das teorias mais bem-sucedidas da física moderna, descreve o comportamento de partículas subatômicas em termos de probabilidades, mas não fornece um meio claro de desmaterialização e rematerialização de objetos maciços (constituídos de massa). A ideia de desmontar um corpo em partículas e remontá-lo em outro local levanta problemas significativos relacionados à incerteza quântica, à conservação da informação e à destruição da originalidade do objeto teletransportado.

Além disso, as limitações da velocidade da luz, conforme descritas pela teoria da relatividade de Einstein, também apresentam barreiras significativas para a teletransportação. A transmissão instantânea de informações ou matéria, como é frequentemente retratada na ficção, desafiaria os princípios fundamentais da relatividade, tornando-a um conceito altamente improvável à luz das atuais compreensões da física.

No âmbito tecnológico, a falta de avanços significativos na manipulação da matéria em níveis atômicos e subatômicos também contribui para a inexistência da teletransportação. As tecnologias atuais não permitem a desmaterialização e rematerialização precisa e controlada de objetos complexos, como seres humanos.

Estou ciente dos pontos de vista ético e filosófico, a teletransportação levanta questões profundas sobre identidade e continuidade pessoal. Se um corpo é desmontado em um local e remontado em outro, a pessoa que emerge no destino é a mesma que partiu(?) Ao menos, para mim, a resposta parece óbvia, é natural que sim! Para alguns, essa pergunta coloca em cheque conceitos fundamentais sobre a natureza da identidade pessoal, alma e consciência. Além disso, uma implicação ética da teletransportação, a possibilidade de duplicação não autorizada de indivíduos levanta, essa, sim, preocupações éticas substanciais. Apesar dessas preocupações, não enfrento dificuldades burocráticas em minhas pesquisas.

Portanto, a inexistência da tecnologia de teleporte de corpos físicos é resultado de uma combinação de obstáculos científicos, tecnológicos e menos relacionados com questões filosóficas e éticas intrincadas. Enquanto a teletransportação permanece um tema fascinante na ficção e na imaginação popular, sua realização prática ainda parece estar distante, devido às complexidades que cercam minha compreensão atual da física, da tecnologia disponível. Confesso que fico intrigado com as implicações profundas que ela teria, para alguns dos que converso, na compreensão da existência humana.

  • Apesar disso, tenho dois pontos em mente, que distinguirei apenas quanto ao estágio de incompreensão relacionado a cada um deles:
  • A ação “fantasmagórica” à distância, frequentemente referida como ação à distância, e os princípios do emaranhamento quântico são conceitos intrigantes da mecânica quântica que, à primeira vista, me parecem relacionados à tecnologia de teletransporte.

    1. **Ação à distância:** A ação à distância é um conceito que desafia a ideia de que a influência entre partículas quânticas deve ocorrer apenas através da troca de informações a uma velocidade limitada pela luz. Na mecânica quântica, dois objetos podem estar “emaranhados” de tal forma que a medição de uma propriedade em um objeto instantaneamente afete a propriedade correspondente no outro, mesmo que estejam separados por grandes distâncias. No entanto, enfrento contratempos, já que a ação à distância na mecânica quântica não permite a transferência de matéria ou informações clássicas de um local para outro. Ela envolve correlações entre propriedades quânticas e não permite o teletransporte de objetos no sentido comum.

    2. **Emaranhamento quântico:** O emaranhamento quântico é um fenômeno intrincado em que partículas quânticas se tornam interdependentes de forma que o estado de uma partícula está instantaneamente correlacionado com o estado de outra, mesmo quando estão separadas por grandes distâncias. Embora o emaranhamento quântico seja uma propriedade real da mecânica quântica, ele não pode ser usado para teletransportar objetos macroscópicos, como corpos humanos, no sentido tradicional do termo. O emaranhamento quântico envolve propriedades específicas das partículas, como spin e polarização, e não a transferência de objetos completos.

    O teletransporte é geralmente imaginado como envolvendo a desmaterialização completa de um objeto em um local e sua rematerialização em outro. Os princípios da mecânica quântica, como a ação à distância e o emaranhamento quântico, não fornecem uma base direta para essa forma de teletransporte. Eles são mais relacionados à correlação de estados quânticos de partículas individuais, enquanto o teletransporte envolve o transporte de objetos complexos.

    Embora a mecânica quântica seja fascinante e tenha implicações profundas, não encontramos um mecanismo direto para a tecnologia de teletransporte. Minha pesquisa atual nessa área se concentra mais em teorias e experimentos que exploram as propriedades do emaranhamento quântico, mas o teletransporte de objetos macroscópicos continua sendo um desafio técnico e teórico significativo para mim.

    Lino dos Santos,
    escrito em meados de 2097.