[•] Correio Terráqueo [•] (Crônica) A crônica que se segue explora uma jornada pessoal de transformação mental e os desafios profundos enfrentados ao longo do caminho. O autor começa relatando um processo de reposicionamento das suas competências mentais iniciado há quase sete anos, destacando a continuidade desse aperfeiçoamento. O texto sugere um acompanhamento multifacetado, onde experiências sensoriais e emocionais se entrelaçam, muitas vezes associadas a sensações de estar dopado ou incapaz de expressar pensamentos e argumentos. No início, o autor descreve uma sensação paralisante, como se um freio ou um elástico o impedisse de articular qualquer ideia, até mesmo a descrição de um simples objeto. Essa dificuldade em falar é atribuída à incapacidade de pensar, gerando um desespero profundo. A metáfora utilizada para ilustrar essa experiência é poderosa: uma corda resistente, puxada por um grupo de homens fortes, simbolizando a resistência enfrentada pela mente ao tentar formar sentenças. A narrativa prossegue com a mente do autor, dopada, tentando acordar enquanto é sedada, criando um ciclo vicioso de dependência do sedativo. A sensação de imobilidade física e mental é exacerbada pelo ambiente desconfortável — um lençol que fere a pele e o corpo incapaz de se levantar. Esse quadro de imobilidade leva o autor a sonhos e pesadelos, tanto dormindo quanto acordado, criando um estado de constante aprisionamento. Um dos momentos mais impactantes da crônica é o encontro com a "bruxa aspirador" atrás da porta, uma figura aterrorizante que o autor enfrenta em um estado de paralisia. O diálogo interno, onde ele desafia a bruxa e pede ajuda para acordar, revela a luta constante contra a mente adormecida e a desesperança de escapar dessa prisão mental. Leia agora a Crônica: Um Encontro Com a Bruxa Aspirador Há quase sete anos, iniciei um processo profundo de reposicionamento das minhas competências mentais. Continuo aprimorando até hoje. Esse acompanhamento poderia ser explicado por vários prismas, alguns poderiam conter relatos das sensações de estar dopado ou sobre a incapacidade de expor argumentos ou ideias em geral. No começo, era como se qualquer tentativa de descrever algum ocorrido, ou até mesmo um simples objeto que eu havia visto na cozinha, fosse impossibilitada por um freio ou elástico que me puxava de volta para trás. Eu não conseguia falar, mas isso só acontecia porque eu também não conseguia pensar — o que era desesperador. A melhor imagem que vem a minha mente quando tento descrever a sensação de querer conjecturar uma sentença ou cadeia de palavras, e não conseguir passar sequer da segunda palavra, seria onde uma corda resistente estivesse afivelada pelo meu corpo, que essa corda era puxada por um grupo de barbados crossfiteiros. O Quebra-Ossos do primeiro homem aranha com o Tobey Maguire estava na fila. Minha mente, dopada, tentava acordar enquanto o sedativo me era ofertado, e eu ingeria porque era bom. Queria levantar mas os músculos do meu corpo, de tanto ficar deitado, já não podiam me levantar da cama. Só me restou largar-me ali, mesmo que o inverno já tivesse passado. O lençol zero por cento algodão, empoçado no verão, atritava e feria minha pele sempre que eu insistisse em tentar me mover ou me levantar. Já tive sonhos em que tentava acordar. Já tive pesadelos, de olhos abertos, onde, mesmo que gritasse, não era ouvido. Vi a bruxa vassoura aspirador atrás da porta fechada, enquanto dormia de olhos abertos debaixo do cobertor. Nesse dia, deixei que me visse dormir (tive de deixar pois não pude me forçar a acordar). Ri da cara dela quando se aproximou da cama, apertei o olho e disse: ‘Não vai embora não? Vai ficar aí o dia todo’, ria e perguntava. — Chama alguém para me acordar? — pedi, já cansado de estar preso olhando para o aspirador, fantasiado de bruxa, encostado ao canto da parede. — Haha, não era vassoura nem bruxa de cabelo preto. A bruxa era o aspirador. São Sebastião do Rio de Janeiro, 2024 @geannaleaixbitencourt